Publicado originalmente no portal Just Real Moms
Eu tinha um professor de educação física na escola que apesar de exigir o uniforme de ginástica completo para podermos participar da aula, estranhamente não se importava quando alguém ia com shorts vermelho, rosa ou laranja….
Depois descobrimos que ele não conseguia distinguir as cores corretamente, ele era o que chamamos comumente de “daltônico”.
Esse termo, “daltonismo” é devido à primeira pessoa que reconheceu e escreveu sobre esse problema, o físico inglês John Dalton, em 1789.
Ele mesmo tinha deficiência de cores e percebia o mundo apenas como diferentes tons de azul, roxo e amarelo.
Usamos em português esse termo para falar de todos os tipos de deficiência de visão de cores – bem mais fácil do que o termo científico “discromatopsia”.
Em todo o mundo, há aproximadamente 300 milhões de pessoas com daltonismo.
Estima-se que afete aproximadamente 1 em cada 12 homens e 1 em cada 200 mulheres ao redor do mundo.
Ou seja, muito provavelmente em cada sala de aula há uma criança com dificuldade de fazer as tarefas e não tem nem ideia da razão disso.
Bem, 1 em cada 12 meninos tem deficiência de cores, e essa chance é maior se o avô materno for daltônico. Meninas são acometidas muito mais raramente (1 em 200) e precisam ter um pai daltônico.
Em tempo, quando temos um parente daltônico e descobrimos uma criança em casa com o mesmo problema, acho de grande valia e sempre sugiro aos pais que procuram esse avô/tio/primo com a mesma condição e peça para conversar com ele sobre isso, e também para ele conversar com a criança.
A experiência e cumplicidade de alguém de confiança que enxerga a mesma coisa faz muito bem para as crianças.
A maioria dos pais de crianças daltônicas não sabe que eles têm uma criança daltônica e, na maioria dos casos, a criança também não perceberá.
Isso significa que um diagnóstico positivo pode ser um choque para todos.
Os pais não devem se sentir culpados se descobrirem isso numa idade mais avançada.
Aqui algumas dicas do que observar em crianças de diferentes faixas etárias
De 3 a 7 anos:
É provável que seu filho precise de mais tempo para processar informações que usem cores, pois eles procurarão por outras pistas (não coloridas).
Existem outros sinais-chave para ficar atentos, em casa e na escola, que indicam que seu filho pode precisar de apoio extra:
- Usa cores inadequadas no desenho ou pintura – por exemplo, folhas roxas em árvores, grama marrom, cachorro vermelho.
- Reluta em brincar de combinar, contar ou classificar jogos com peças coloridas
- Nas atividades de colorir, tem um baixo tempo de atenção – mais baixo que em outras atividades.
- Tem dificuldade para reconhecer quem é da sua equipe pois as camisas coloridas são muito parecidas
De 7 a 12 anos:
- Usa escolhas de cores inadequadas ao completar planilhas, desenhos e diagramas – por exemplo, rios roxos.
- Às vezes é difícil interpretar informações em textos online ou páginas da web coloridas
- Raramente usa cores ou usa cores incorretas
- Tem dificuldade em ver cones de treinamento coloridos e marcas de linha, por exemplo, no jogo de vôlei ou futebol de salão.
- Não percebe pela cor que uma banana passou do ponto
- Tem problemas em ver todas as imagens e instruções em jogos de computador ou videogame
Adolescentes:
- Dificuldade em seguir informações codificadas por cores apresentadas em gráficos e diagramas.
- Acha difícil interpretar informações em quadros interativos ou projetadas em telas
- Tem dificuldade em interpretar mapas, gráficos de pizza de cores e resultados de experimentos científicos
- Tem dificuldade de perceber qual a cor do LED do celular que está piscando
- E tem notas inesperadamente baixas pra matérias que domina quando usa ferramentas online para entregar trabalhos.
No geral, as crianças são muito boas em esconder as próprias deficiências – elas se adaptam e acham “normal” enxergar assim.
Às vezes suspeitamos disso quando vemos um desenho com cores “estranhas”.
Levei ao oftalmo e realmente meu filho é daltônico, o que fazer?
Bom, primeiro quero lembrar que uma pessoa com deficiência na visão de cores tem uma vida normal e pode exercer algumas funções até melhor do que pessoas com visão de cor “normal”.
A Internet está cheia de histórias de como daltônicos foram recrutados na 2a Guerra Mundial para sobrevoar o território e indicar onde o inimigo estava camuflado. Apesar de não achar comprovação histórica disso, acho que é possível e até provável, com treino quem tem essa dificuldade aprende a diferenciar texturas, por exemplo, facilitando o reconhecimento da camuflagem.
Quando recebo uma criança daltônica no consultório sempre deixo claro para a criança que isso que ela considera uma dificuldade, as outras crianças da classe vão achar super interessante e vão querer saber como é enxergar diferente.
Apesar de ser frustrante e cansativo algumas vezes, não é nada para ter vergonha.
Mas sim, elas precisam de ajuda em algumas situações:
- Primeiro de tudo, importante informar a escola, e de preferência já explicando quais são as cores em que há dificuldade para que o quadro, material escolar e as atividades sejam adaptados
- Identifique as canetinhas e lápis de cor da criança com os nomes das cores assim que ela souber ler
- Melhore a iluminação onde a criança faz a lição de casa – numa boa luminosidade fica mais fácil de perceber as diferenças.
- Quando a criança for mais velha e já puder escolher a roupa e se vestir sozinha, coloque na etiqueta as cores da roupa, assim ela vai saber o que combinar
- Encoraje a criança a sempre que se sentir insegura com algo relacionado a isso, a expor a dificuldade. Se ela não levanta a mão e pergunta na escola, apenas ela vai ficar sem aprender
Mas, existe cura?
Por ser uma alteração genética, ainda não existe cura para essa condição.
Há um tempo, viralizou um vídeo de óculos que curava o daltonismo. Bem, ele não cura.
Em algumas deficiências de cores há sim melhora do contraste, facilitando diferenciar as cores, mas esses óculos não fazem um daltônico enxergar como uma pessoa que tem a visão de cores desenvolvida.
Portanto, o que temos de concreto até o momento é a importância de falar sobre o assunto para minimizar as dificuldades que a criança possa ter, e assim ter uma vida normal.
Até o mês que vem! E precisando, estamos por aqui.